Perdido? Eu não
estou perdido. eu sei exatamente onde estou: Eu estou AQUI!
Eu sou um Capixaba,
nascido no Rio de Janeiro. Sempre tive raízes fortes apegada a esse chão. A
minha cidade só existe na minha imaginação. Esse lugarzinho não existe de fato
porque eu saí de lá. Parafraseando Renato Russo na música “Por Enquanto”,
mudaram as estações, mas nada mudou pra quem ficou, pois quem ficou se
transformou junto com o lugar, mas eu sei que alguma coisa aconteceu, pois tá
tudo tão diferente de quando eu saí. Porém nada irá conseguir mudar o que ficou
representado em minha memória.
Essa representação
do lugar é o que me faz voltar pra casa, para o meu Jardim do Éden. perfaço o
caminho trilhando entre paisagens que a
memória construiu. Viajo entre os "mares de morros" e pastos,
sentindo cheiro de café secando nos terreiros e nos coadores de pano, tudo isso
misturado ao bom cheiro de esterco dos currais, onde vacas são ordenhadas por
aquele homem da roça, homem da terra, o roceiro que sente orgulho de pertencer
a um lugar, uma terra, onde mora e
sempre morou... Sem nada mudar; apegado.
Eis a razão pelo
qual não encontro mais o lugar da minha infância: todo lugar é um “ser” em
eterna migração. Se todo lugar é um migrante, o “aqui” de agora foi um outro
“aqui” no passado e será outro no futuro. Kivitz, analisando o livro de
Eclesiastes, disse que cada geração é única, tendo sua maneira característica
de se apropriar e de recriar a realidade. Os tempos mudam, as técnicas dos
homens modificam a paisagem, alteram o curso dos rios, cortam as matas nativas,
constroem-se estradas e pontes, extraem a riqueza das pedras, envenenam a terra
a água e o ar.
Assim a paisagem se adapta às mudança a ela
submetida. A sensação que tenho é de uma evolução social e territorial onde as
esperanças dos homens são tão mutáveis assim como muda a sua consciência ante a
dinâmica do tempo.
Porém, houve uma
época onde pessoas que não tinham vínculos com a terra e que viviam como
peregrinos e estrangeiros. Estes homens buscavam alcançar um lugar que não
conheciam, buscavam um lugar onde o único vínculo de fato não era com o lugar,
o vinculo era com o Deus do Universo.
Para nós o lugar
pode ser aqui, ou aí... Tanto faz...O vínculo que buscamos ter não é com o
lugar.
Edson M. Felisberto
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