quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Aqui


Perdido? Eu não estou perdido. eu sei exatamente onde estou: Eu estou AQUI!

Eu sou um Capixaba, nascido no Rio de Janeiro. Sempre tive raízes fortes apegada a esse chão. A minha cidade só existe na minha imaginação. Esse lugarzinho não existe de fato porque eu saí de lá. Parafraseando Renato Russo na música “Por Enquanto”, mudaram as estações, mas nada mudou pra quem ficou, pois quem ficou se transformou junto com o lugar, mas eu sei que alguma coisa aconteceu, pois tá tudo tão diferente de quando eu saí. Porém nada irá conseguir mudar o que ficou representado em minha memória.

Essa representação do lugar é o que me faz voltar pra casa, para o meu Jardim do Éden. perfaço o caminho trilhando  entre paisagens que a memória construiu. Viajo entre os "mares de morros" e pastos, sentindo cheiro de café secando nos terreiros e nos coadores de pano, tudo isso misturado ao bom cheiro de esterco dos currais, onde vacas são ordenhadas por aquele homem da roça, homem da terra, o roceiro que sente orgulho de pertencer a um lugar, uma terra, onde mora e  sempre morou... Sem nada mudar; apegado.

Eis a razão pelo qual não encontro mais o lugar da minha infância: todo lugar é um “ser” em eterna migração. Se todo lugar é um migrante, o “aqui” de agora foi um outro “aqui” no passado e será outro no futuro. Kivitz, analisando o livro de Eclesiastes, disse que cada geração é única, tendo sua maneira característica de se apropriar e de recriar a realidade. Os tempos mudam, as técnicas dos homens modificam a paisagem, alteram o curso dos rios, cortam as matas nativas, constroem-se estradas e pontes, extraem a riqueza das pedras, envenenam a terra a água e o ar.

 Assim a paisagem se adapta às mudança a ela submetida. A sensação que tenho é de uma evolução social e territorial onde as esperanças dos homens são tão mutáveis assim como muda a sua consciência ante a dinâmica do tempo.

Porém, houve uma época onde pessoas que não tinham vínculos com a terra e que viviam como peregrinos e estrangeiros. Estes homens buscavam alcançar um lugar que não conheciam, buscavam um lugar onde o único vínculo de fato não era com o lugar, o vinculo era com o Deus do Universo.

Para nós o lugar pode ser aqui, ou aí... Tanto faz...O vínculo que buscamos ter não é com o lugar.

Edson M. Felisberto

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